O Relatório de Estabilidade Financeira do Banco de Portugal (BdP), divulgado recentemente, aponta um aumento preocupante nos empréstimos em risco em 2023, principalmente devido ao endividamento crescente das famílias mais pobres. Este aumento é atribuído, em grande parte, à grande percentagem de créditos habitação a taxa variável que estão indexados à Euribor, elevando assim o risco dos empréstimos dos particulares.
Apesar de uma ligeira diminuição do rácio de crédito em incumprimento - de 3% para 2,7%, graças à manutenção do emprego, rendimento das famílias, renegociações de créditos, e medidas de apoio do governo - 2023 viu um incremento nos empréstimos com deterioração do risco de crédito. O rácio de empréstimos a particulares em risco, conhecido como 'stage 2', sofreu um aumento de 2,2 pontos percentuais, atingindo 10,4%.
Segundo o BdP, esta escalada no risco de crédito reflecte-se num maior peso do serviço da dívida no rendimento das famílias mais vulneráveis. Este fenómeno é preocupante, uma vez que os créditos que caem em 'stage 2' são aqueles que, não estando em incumprimento, apresentam sinais de que tal possa vir a ocorrer, agravando assim a sua situação financeira.
Quanto ao setor bancário português, o relatório evidencia melhorias contínuas em termos de capital, liquidez e rendibilidade. No entanto, enfatiza a importância de preservar a margem financeira para sustentar a geração orgânica de capital, especialmente à luz de possíveis reduções nas taxas de juro. Este esforço objetivo que visa garantir a adequada remuneração de depositantes e acionistas, bem como adaptar-se às novas realidades do mercado.
O governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, ao apresentar o relatório numa conferência de imprensa em Lisboa, realçou a resiliência do sector bancário nos testes de 'stress' europeus e comentou sobre os processos de mercado, incluindo possíveis fusões de bancos, indicando que estas serão determinadas pelo mercado.